O Jornalismo acabou? O Jornalismo morreu? Agora, todos somos jornalistas? Apesar dos "maus presságios", o Jornalismo e a profissão de jornalista continuam mais fortes do que nunca e ocupam um papel central nas sociedades democráticas. Não sou ingênuo. Diga-se de passagem, é a primeira lição que ensino aos meus alunos e alunas de Jornalismo. Nenhum jornalista pode alegar que é ingênuo; ou então não é jornalista. A sociedade mudou; o Jornalismo mudou. Tem hoje pela frente novos desafios sociais, tecnológicos e éticos. É isso que renova e deixa o Jornalismo mais vivo do que nunca.
Mas, se o Jornalismo está mais vivo do que nunca, por que observamos uma certa crise de credibilidade, uma acomodação nas redações e um certo desânimo nos cursos? Tenho algumas hipóteses, mas prefiro trabalhar com aquela que, acredito, toca mais de perto os(as) jornalistas e os(as) estudantes de Jornalismo: a baixa autoestima. É preciso resgatarmos o orgulho de ser jornalistas. Lutarmos pela qualidade da informação e pela ética profissional.
Nem tudo está perdido. Sou um otimista e acredito que mudanças estão ocorrendo e vão acontecer, não de uma forma mágica, mas com muita luta. E o exemplo para todas e todos nós vem de um grupo de estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Numa época em que só se fala em novas tecnologias esses jovens lançam um grito de alerta que nos convoca a refletir o Jornalismo hoje: "Queremos um Jornal".
O zumbido do besouro
É o movimento que alunas e alunos da UFRN, com a participação do professor Emanoel Barreto, começaram e que tem por objetivo sensibilizar a reitoria da Universidade para dotar o curso de um jornal. Os estudantes vão mais longe. Querem a construção de um laboratório e de um parque gráfico. A preocupação deles é a formação de um jornalista qualificado que possa aprender na prática a teoria ensinada em sala de aula. No Jornalismo, a prática e a teoria caminham juntas. Na verdade, o que reivindicam alunos e alunas são as condições básicas para enfrentarem os desafios da profissão. A preocupação que carregam em seus corações e mentes é que lhes sejam dadas todas as condições para estarem eticamente preparados para exercer a atividade com dignidade.
Os estudantes são ainda mais ambiciosos O movimento tem como proposta a edição de um jornal preocupado com a agenda da sociedade e dos movimentos sociais, livre dos vínculos e das pressões do mercado. Têm toda a razão. É na faculdade que se ensina e se aprende Jornalismo. É na faculdade também que os(as) alunos(as) podem refletir sobre a importância do jornalismo como um bem público que pode contribuir de uma forma relevante para o aperfeiçoamento da democracia, bem como de uma sociedade mais justa e solidária.
Dignidade é a palavra de novo. Só assim vamos resgatar a autoestima no Jornalismo. O Jornalismo não se reduz a meia dúzia de regras como o que, quem, quando, onde, como e por quê. O Jornalismo é muito mais do que isso. Ao interpretar a realidade social, contribui para construção do mundo em que vivemos procurando orientar homens e mulheres para que possam entender o cotidiano em que vivem, adaptar-se a ele e modificá-lo.
Como observa Gabriel García Márquez ao tratar do Jornalismo, no texto "A melhor profissão do Mundo":
Texto originalmente publicado no Observatório da Imprensa.
Comentário do #QueremosUmJornal: A importância de palavras como essas, de encorajamento e confiança, não pode ser mensurada. A esperança na nossa campanha é um bálsamo de novo ânimo e alento. Sentir a certeza depositada em nós, alunos e alunas do curso de Comunicação Social da UFRN, nos enche de responsabilidades, mas não nos amedronta. Ao contrário, nos ergue. Ver que a nossa luta é também a vontade enrustida no peito de professores, jornalistas e estudantes nos faz querer levar a nossa voz - e o nosso zumbido - para além dos muros da Universidade. E levaremos.
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